Familia Peregrina 7
Furusato – terra natal

Nasci já na cidade e morava com meus avós, que tomavam conta de mim e de meus irmãos enquanto meus pais trabalhavam. Lembro que minha avó costurava e fazia zabuton, futon e tapetes para a casa. Eu ainda tenho o futon guardado e quando volto para casa adoro usá-lo. Às vezes, o meu avô fazia chinelo típico japonês que ele improvisava com taboa, gostava de ficar ali olhando ele fazer o chinelo, de ficar sentado em seu colo e jogando conversa fora, mas ele não reclamava e sempre estava sorridente.
Em 1994, tive a oportunidade de vir ao Japão e fazer um estágio numa empresa em Okayama. Conversando com dois senhores da empresa, contei-lhes que tinha vontade de ver onde meus avós nasceram, mas eu só sabia o que constava no koseki (registro). Inesperadamente, eles se propuseram a me ajudar a achar o vilarejo. No dia marcado, partimos bem cedo com destino ao vilarejo, nem dormi de ansiedade. Quando nos aproximamos do local, quase não havia casas, mas plantações e mata. Paramos várias vezes procurando alguém que tivesse informações sobre os meus avós. Um certo senhor chamou a sua mãe, que para nossa surpresa nos disse que era ali mesmo que meu avô morara e que havia sido amiga de infância deles. Fiquei ali parado por alguns instantes sem reação, com um frio na barriga e espinha, uma mistura de alegria e espanto. A senhora nos contou que a casa ficava no mesmo local, mas havia sido reformada, uma das poucas coisas que estava ali desde a época de meu avô, era um pé de caqui que ficava em frente à casa. Infelizmente não era época da fruta, senão poderia ter comido o caqui do mesmo pé que meu avô havia comido. O pequeno cemitério da família, perto da casa, ainda existia, então fomos visitar o túmulo de meus antepassados. Fiquei imaginando os meus avôs caminhando naquela mesma trilha em que eu pisava. Não dá para descrever a emoção e alegria que senti naquele dia. Sou muito grato aos senhores que me levaram lá e também à família que ainda cuida do cemitério para nós.
Chegando ao Brasil mostrei as fotos para minha avó que ficou muito emocionada por rever a terra natal que não via desde a sua adolescência, mesmo que por fotos. Essa alegria, infelizmente, não pude dar ao meu avô que me mostrou-me o aconchego de um colo, me deu o suporte de um ombro amigo e me ensinou que na simplicidade do silêncio existe uma enorme sabedoria.
Aos meus avôs meu muito obrigado pelo amor que nos dedicaram, por lições de vida e por tudo que fizeram por todos nós. Hontoni kokorokara kansha shitemasu.
Sergio Toshioka (Comunidade de Tsuchiura)
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