domingo, 3 de agosto de 2008

Familia Peregrina 7

Furusato – terra natal


Por volta de 1928, como a grande maioria dos imigrantes, os meus avós vieram de Okyama, Japão, em busca de uma vida melhor. Após alguns anos eles se casaram através de omiai. Criaram seus filhos com muito sacrifício e esforço, vieram as perseguições com a segunda guerra, e com o seu fim, veio o confisco da propriedade de meus bisavôs no Japão por parte do governo japonês, e o sonho do retorno ficou muito mais remoto. Resolveram, então, fazer a vida no Brasil. Trabalhavam na lavoura, mas como as coisas não iam bem, venderam o sitio para comprar uma casa na cidade e tocar a vida.
Nasci já na cidade e morava com meus avós, que tomavam conta de mim e de meus irmãos enquanto meus pais trabalhavam. Lembro que minha avó costurava e fazia zabuton, futon e tapetes para a casa. Eu ainda tenho o futon guardado e quando volto para casa adoro usá-lo. Às vezes, o meu avô fazia chinelo típico japonês que ele improvisava com taboa, gostava de ficar ali olhando ele fazer o chinelo, de ficar sentado em seu colo e jogando conversa fora, mas ele não reclamava e sempre estava sorridente.
Em 1994, tive a oportunidade de vir ao Japão e fazer um estágio numa empresa em Okayama. Conversando com dois senhores da empresa, contei-lhes que tinha vontade de ver onde meus avós nasceram, mas eu só sabia o que constava no koseki (registro). Inesperadamente, eles se propuseram a me ajudar a achar o vilarejo. No dia marcado, partimos bem cedo com destino ao vilarejo, nem dormi de ansiedade. Quando nos aproximamos do local, quase não havia casas, mas plantações e mata. Paramos várias vezes procurando alguém que tivesse informações sobre os meus avós. Um certo senhor chamou a sua mãe, que para nossa surpresa nos disse que era ali mesmo que meu avô morara e que havia sido amiga de infância deles. Fiquei ali parado por alguns instantes sem reação, com um frio na barriga e espinha, uma mistura de alegria e espanto. A senhora nos contou que a casa ficava no mesmo local, mas havia sido reformada, uma das poucas coisas que estava ali desde a época de meu avô, era um pé de caqui que ficava em frente à casa. Infelizmente não era época da fruta, senão poderia ter comido o caqui do mesmo pé que meu avô havia comido. O pequeno cemitério da família, perto da casa, ainda existia, então fomos visitar o túmulo de meus antepassados. Fiquei imaginando os meus avôs caminhando naquela mesma trilha em que eu pisava. Não dá para descrever a emoção e alegria que senti naquele dia. Sou muito grato aos senhores que me levaram lá e também à família que ainda cuida do cemitério para nós.
Chegando ao Brasil mostrei as fotos para minha avó que ficou muito emocionada por rever a terra natal que não via desde a sua adolescência, mesmo que por fotos. Essa alegria, infelizmente, não pude dar ao meu avô que me mostrou-me o aconchego de um colo, me deu o suporte de um ombro amigo e me ensinou que na simplicidade do silêncio existe uma enorme sabedoria.
Aos meus avôs meu muito obrigado pelo amor que nos dedicaram, por lições de vida e por tudo que fizeram por todos nós. Hontoni kokorokara kansha shitemasu.

Sergio Toshioka (Comunidade de Tsuchiura)

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Mapa de acesso - Igreja Católica de Tsuchiura

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