sábado, 16 de fevereiro de 2008

Coluna do Pe Louis Roguet

Eu gosto muito deste tempo de Quaresma, de vivência com a pedagogia da Igreja, nas leituras, as cores, os jejuns, os esforços para mudar algumas coisas que atrapalham, tudo isso ajuda para que a cada ano mudemos um pouco para melhor, e também para esperar com muita ansiedade a Ressureição de Cristo, nossa VITÓRIA sobre a morte. Quando estava no Brasil sempre ficava triste de ver o povo tão numeroso na Sexta-feira Santa (morte de Cristo) e quase ninguém para festejar a Ressureição.

Esse artigo eu escrevi há alguns anos atrás para o Jornal Peregrinos e achei que seria bom colocar no blog para explicar o que é a Quaresma e o que se faz durante esse tempo, pois muitos não sabem.

Eu vos desejo um bom caminho de convesão!

Pe. Louis Roguet*
MOPP - Missão Operária São Pedro e São Paulo
(louismopp@hotmail.com)

* Pe Louis e suíço, antes de vir ao Japão, morou no Brasil por mais de 10 anos. Ele celebra missas em portugues em Higashi-Matsuyama (1º dom/16:00), Kawagoe (4º dom/16:00) e Ota (3º dom./15:30)



Quaresma, 40 dias de Conversão e Libertação
Já estamos na Quaresma, um tempo de conversão e libertação. Ela inicia com as Cinzas: “Você é pó e voltará para o pó. Convertei-vos e acredite no Evangelho”, e vai até a Páscoa. São 40 dias que vão lembrando os 40 anos no deserto que o Povo de Israel precisou para se converter e entrar na Terra Prometida.
Jesus também antes de iniciar sua evangelização, quis ficar 40 dias no deserto jejuando e rezando. O demônio veio tentá-lo dizendo: “Se és Filho de Deus, mande que estas pedras se transformem em pães”. Jesus então respondeu: “Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da Boca de Deus” (Mt 4, 4).
Assim, a Igreja nos oferece esta oportunidade de nos converter, ou seja, tomar um outro caminho para nos tornar livres e sermos mais filhos e filhas de Deus. Para isto, precisamos refletir sobre o que nos escraviza e que não nos permite ser imagem de Deus (Gn 1, 26):
A comida, a bebida, o cigarro nos escravizam, sempre cobrando mais e nos levam à doença e à morte.
O sexo que impede ver os outros com um olhar puro e gratuito, ocupa nossa imaginação e nosso coração, transformam os outros em instrumentos do prazer, ao invés de ser amor e dedicação. Este também leva à doença e à morte do coração e da família.
A violência, a mentira, as fofocas e o ódio que destróem as relações na família, no trabalho, impedindo a construção de um mundo solidário, de paz e de amor.
O dinheiro, que cria uma fome de possuir jamais satisfatória e nos torna escravos: trabalhar, trabalhar e trabalhar... não temos mais tempo de partilha, de descanso, nem de participar da comunidade cristã.
A aparência: cabelos, perfumes, vestidos que precisam de dinheiro e tempo. Assim nos tornamos escravos da aparência, e não sobra mais tempo para ser imagem de Deus, transparecendo a beleza de Deus que Sua Palavra faz brilhar no rosto de quem a lê e a pratica.
A preguiça que nos impede encontrar os irmãos e mais ainda a Deus, deixando de ler cada dia o Evangelho (a Boa Notícia de Jesus Cristo), de rezar e de participar da comunidade que se reúne aos domingos. Assim, a pregüiça deixa fora este Deus que bate na porta de nosso coração para entrar e compartilhar conosco (Ap 3,20).
É assim que vivia (ou melhor morreu) o Povo de Deus no deserto. Temos que cuidar para não precisarmos ouvir o que Deus falou à eles: “Por quarenta anos, estive desgostoso com essa geração e disse: É um povo de coração transviado, que não reconhece meus caminhos... por isso, jamais entrarão no meu repouso” (Sl 95, 10). O autor da carta aos Hebreus nos aconselha: “Portanto irmãos, tenham cuidado para que não haja entre vocês nenhum homem (mulher) de coração perverso e sem fé, que se afasta do Deus vivo.
Animem-se uns aos outros a cada dia, enquanto dura a proclamação desse hoje, a fim de que ninguém de vocês se endureça enganado pelo pecado. De fato nos tornamos participantes de Cristo, contanto que mantenhamos firmes até o fim a fé que tivemos desde o início” (Hb 3, 12-14).
O Hoje de Deus é nosso “cada dia”. Nesta Quaresma por que não iniciar cada dia com a escuta da Palavra de Deus e se tornar assim companheiros de Cristo? “Ele é o sumo sacerdote que atravessou os céus, Não temos fraquezas, pois ele mesmo foi provido como nós, em todas as coisas, menos o pecado” (Hb 4, 14-15).
Ele é assim capaz de nos ajudar e guiar o nosso dia-a-dia. Vamos fazer as leituras que a Igreja, como uma Mãe, nos dá a cada dia:
• A primeira que nos mostra a luta do Povo de Deus para se converter e as propostas de conversão proclamadas pelos profetas.
• O Evangelho que nos revela a misericórdia de Deus e a salvação do Filho de Deus, Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida, que caminha a nossa frente e vai dar a própria vida para nos salvar.
Assim respondemos ao mandamento de Deus, o primeiro e sempre recordado: Ouvi Israel. E depois, o que podemos fazer para nossa conversão?
Reduzir o tempo de televisão ou vídeo, e assim tomar tempo de ler um bom livro, partilhar com a família e os amigos. A gente se torna mais imagem de Deus e deixa um pouco de lado as imagens do mundo e os ídolos (cantor, esportista, ator) que geram violência, paixões e desejos de consumo.
O jejum: ele é fonte de liberdade, pureza e saúde. Quando jejuar, tome muito líquido e um pouco de sal, assim não vai desmaiar, mas sim sentir alegria e paz. Se não conseguir jejuar um dia, pode fazê-lo (por exemplo na 6ª. feira) o jejum de uma refeição, ou da carne, ou do doce. Ver aquilo que nos escraviza e se libertar... e utilizar o dinheiro poupado para ajudar um pobre que não tem o que comer, tornando-se uma pessoa com melhor saúde e mais irmão universal.
O importante é se esforçar cada dia para realizar nossa conversão. Deus que é Pai, sabe nossa fraqueza, e vai se alegrar das nossas boas disposições de conversão. Ele vai se revelar cheio de misericórdia e de compaixão, e vai dar a paz e a alegria de Filhos e Filhas de Deus. E quem sabe, tentando mudar um pouco de vida, você vai descobrir sua fraqueza e seus pecados. Por que não aproveitar deste tempo para procurar o Sacramento da Reconciliação? Assim, confessar os seus pecados, receber o perdão das mãos do sacerdote, receber a graça de melhora e também poder comungar no corpo e no sangue deste Jesus, que deu a própria vida para nos salvar e quer viver conosco. Portanto, “aproximemos do trono da graça com plena confiança a fim de alcançarmos misericórdia, acharmos graça e sermos ajudados no momento oportuno” (Hb 4, 16).
Boa Quaresma e boa caminhada de conversão.
(artigo publicado no Jornal Peregrinos impresso, edição 33, fevereiro 2005. Arquivos PDF disponiveis em http://br.geocities.com/peregrinosjapao/Peregrinos_Fev05.htm)

Nenhum comentário:

Mapa de acesso - Igreja Católica de Tsuchiura

Mapa de acesso - Igreja Católica de Tsuchiura