sexta-feira, 2 de maio de 2008

Kibou wo motte ayumu tami (Portadores de esperança)


Em frente ao cais do porto, no Meriken Park, na cidade de Kobe, província de Hyogo, há 580 kms ao sul de Tóquio, ergue-se um monumento representando uma família com o olhar fixo no horizonte. O filho, ainda pequeno, com sua mão levantada indica a mesma direção do olhar de seus pais. Nos quatro lados do pedestal a inscrição em japonês, inglês, espanhol e português: “de Kobe para o mundo”. Ao lado, uma fotografia antiga mostra uma pequena multidão de pessoas sérias e pensativas, embarcando no navio em cuja proa pode-se ler: “Kassato Maru”. Este era o nome do navio cargueiro, adaptado para levar migrantes japoneses ao longínquo Brasil, que zarpou de Kobe no dia 28 de abril de 1908.
Os rostos com expressão triste e a determinação de partir em busca de dias melhores, revelam dois aspectos do fenômeno migratório: a dramacidade e a esperança.
Kobe, Yokohama e outros portos do Japão, foram o palco onde mais de 250.000 japoneses , ao partir para o Brasil, deram e ouviram um “até logo”aos seus familiares e país, mas que na verdade, para a maioria, foi um “até sempre”.Devido às circunstâncias, a terra que era para ser temporária, passou ser a terra na qual não só plantariam café, e produtos agrícolas sazonais, mas seria o solo onde estabeleceriam sua residência permanente. Na atualidade, cacula-se que os descendentes nikkeis no Brasil chegam a 1 milhão e meio de pessoas.
Mas a “terra dos sonhos”, como os agentes de migração costumavam chamar o Brasil para atrair migrantes para ele,nem sempre foi uma realidade. No início da década de 90, quando o Japão passava por um período de crescimento impressionante, mas com uma grande escassez de mão de obra, no mesmo período, o Brasil enfrentava uma crise econômica aguda e a taxa de desemprego era muito elevada. Foi, então, que o Japão decidiu trazer descendentes de japoneses para preencher as vagas de trabalho em suas indústrias.
A decisão do governo japonês desencadeou um movimento migratório sem precedentes, tendo atraído mais de 300.000 brasileiros para a terra de seus antepassados. Na Terra do Sol Nascente, eles trabalham na pequena e média indústria. Eram classificados como “dekasseguis”, trabalhadores temporários. Contudo, hoje em dia, a opinião geral assinala que essa classificação inicial está sendo substituída por “residentes permanentes”.
Essa massa de migrantes, longe de sua terra natal, está celebrando o centenário desde que seus antepassados migraram para o Brasil. Para celebrar o evento nada melhor do que se reunir no mesmo lugar de onde eles partiram, no porto de Kobe, hoje transformado em área turística, chamada Meriken Park. Os motivos de estarem aqui são os mesmos de seus avós e bisavós, A esperança em dias melhores, agregando não só dinheiro às suas vidas , mas também valores morais, religiosos e familiares, é a força que os faz superar os obstáculos. Tudo isso precisava ser celebrado.
O dia 27 de abril de 2008, com um sol brilhante, tempetatura amena, a primavera com sua exuberância, foram os presentes de Deus, para que o povo migrante, juntamente com os autóctenes, autoridades civis e religiosas celebrasse a história de quem partiu e a história de quem chegou há pouco.
Sendo que a maioria dos migrantes brasileiros professam o catolicismo, a celebração de uma missa com o tema “portadores de esperança”, abriu as comemorações. No ofertório foram apresentados símbolos do trabalho dos antepassados bem como símbolos de seus descendentes, agora, no Japão. Balões com as cores dos dois países adornaram o palco.
Seguiram-se espetáculos de músicas e danças nas quais foi possivel perceber elementos de ambas as culturas combinados em harmonia.
Contudo, estava faltando um dos momentos mais esperados: o culto interreligioso e ecumênico. Ministros das religiões buditas e shintoístas, e dos cristãos, católicos e protestantes, ocuparam o palco para dar suas mensagens e orar, cada um de acordo com sua fé. Concluíram, unindo as mãos para rezar juntos pela paz e confraternização entre os povos de diferentes religiões e culturas.
A migração, apesar de ter seu lado dramático, com uma considerável dose de sofrimento, além de incentivar a esperança, oferece uma oportunidade sem igual para a aproximação das pessoas, no respeito pelas diferenças. O passo que segue é fazer das diferenças uma inesgotável fonte de enriquecimento humano e espiritual. Os migrantes brasileiros no Japão estão indicando o caminho.

Padre Olmes- Tóquio

Vejam mais fotos e videos do evento no nosso album Centenário da Imigração:

http://picasaweb.google.com/web.peregrinos/CentenarioDaImigracaoKobe27DeAbril2008

http://picasaweb.google.com/web.peregrinos

(O evento foi um sucesso e amplamente divulgado pela mídia brasileira e japonesa. Estima-se que mais de 5 mil pessoas estiveram por lá. As comunidades catolicas da Diocese de Saitama estiveram representadas por cerca de 60 pessoas de Ibaraki, Tochigi e Gunma.)

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Mapa de acesso - Igreja Católica de Tsuchiura

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